sábado, 28 de janeiro de 2017

20 - Fogo & Planos futuros



Alexa colocou algumas cartas e ursinhos em cima do sofá e, o meu pai, o Rober e a Lelê, aproveitaram para sair do camarim, avisando que estariam esperando na van.

Ela se virou e estava com uma cara séria e um pouco chateada. Será que ela não ia acreditar em mim de novo? Eu me via naquele dia no meu estúdio, quando ela disse com todas as letras que me odiava. Mas agora, ela estava aqui ainda, eu tinha de conseguir me explicar direito. Claro que não iria contar a verdade nua e crua.




- Quem é a Sandra, Luan? - indagou novamente esperando eu contar.

- Você promete que vai acreditar em mim?

- Depende.

- Você tem de prometer, Alexa!

- É assim tão grave o que você tem pra me contar? - rebateu cruzando os braços.

- Não sei. - suspirei - Senta aqui. - puxei-a para o sofá e me sentei ao seu lado. - Há alguns anos eu namorei com essa Sandra. - confessei. - E a gente não acabou nada bem, embora para a imprensa tenha sido um término amigável.

- O que aconteceu?

- Não quero falar disso agora, não é nada que importe para a gente.

- Então?

- Ao que parece, a Sandra voltou.

- E? Ainda não entendi porque você estava furioso? Você ainda gosta dela? - me perguntou irritada.

- Não, claro que não. - neguei rapidamente - Eu amo você. Ela é passado. - suspirei e encarei-a - Acho que ela está querendo se vingar.

- Se vingar porquê? O que você fez pra ela?

- Não fiz nada, ela é que fez pra mim. - disse indignado, não suportaria se Alexa me acusasse de algo novamente - Mas ela não é uma boa pessoa e quer provar que pode dar a volta por cima.

- O que ela te fez?

- Eu não sei se ela fez, entende? Mas é estranho as coisas darem errado quando ela está no Brasil. Além da música, cancelaram um show meu.

- Sem motivo? - perguntou com um olhar cerrado.

- Acho que fizeram um negócio melhor. Acredita em mim, Alexa. Eu não fiz nada para essa Sandra, eu nem quero mais saber dela, a nossa história acabou há dois anos atrás.

- Tudo bem. - senti um alívio me preencher - Eu acredito nisso. Mas... - semicerrei o olhar - Quem é a Teresa? - me fuzilou.





Será que ela lembrou de algo? Será que ela teve alguma memória dessa Teresa? O desespero tomou conta de mim, de novo.





- Como assim? - me fiz de desentendido.

- Você recebeu uma mensagem dessa Teresa. - me atirou o celular, ela sempre ficava com ele quando eu fazia show  - Também é uma ex-namorada que voltou? Mas pelos vistos essa não quer vingança e sim remember. - ironizou e li a mensagem.




"Oi bebé, estou por Sampa, vamos nos encontrar e matar saudade? Beijo 😘 Teresa"




- Eu não conheço nenhuma Teresa, foi engano com certeza. - tentei parecer convicto.

- Claro que você ia dizer isso. - se levantou brava - Quem é ela, Luan?

- Eu não sei. - disse alto.

- É alguma das suas peguetes? - perguntou com os olhos lacrimejados e eu só queria a abraçar e fazê-la entender que é ela que eu amo. - Você ainda tem os contatos delas né?

- Mas eu não falo mais com elas, você tem de acreditar em mim.

- Apaga tudo agora, apaga os contatos, para de seguir nas redes sociais. Apaga todo o rastro delas. - pediu.

- Tudo bem, eu faço isso. Mas você acredita em mim?

- Não sei.

- Como não sabe? Você vai acreditar nessas mulheres que nem conhece? - me levantei nervoso.

- Então devo acreditar em quem?

- Em mim, Alexa. Em mim, que sou seu namorado e que te amo. - gritei incrédulo. - Você nunca acredita em mim, porra. Você sempre prefere acreditar em quem nem conhece.

- Por que você está falando como se eu já tivesse feito isso antes? - perguntou limpando uma lágrima que caiu.





Eu não poderia ceder e entregar o jogo assim. Ela não podia saber de nada, se ela não lembra, eu não vou contar.





- Por nada, apenas acho injusto você preferir acreditar em pessoas desconhecidas do que eu mim, que sempre te ajudei, te protegi e amei. Ainda mais cedo você disse que me amava,

- E eu amo. - disse não muita certa.

- Mas você está desconfiando de mim, está fazendo o contrário do que é amar.

- Eu só tenho medo que você perceba que eu não sou certa pra você. Afinal, eu sou pobre, órfão, e agora sou uma sem memória.

- E mesmo assim eu te amo, mesmo que você tivesse mais um monte de problemas, mesmo se você tivesse perdido muito mais do que a memória no acidente. - esclareci - O que você quer mais que eu faça para que você entenda que eu te quero do meu lado, somente você?

- Nada, não precisa fazer nada. - limpou o rosto e voltou a se sentar - Você promete que não tem mais nada com essas mulheres e que não tem culpa nenhuma delas continuarem a te contactar?

- Prometo, eu não tenho olhos para mais ninguém. - garanti.

- Tá. Então desculpa, eu não queria insinuar nada. Apenas me sinto insegura.

- Shhh, não precisa se desculpar. - a abracei - Eu só te peço que você me deixe te explicar primeiro, você não imagina o quanto é difícil para mim você não acreditando na minha palavra e nos meus sentimentos.

- Desculpa. Eu prometo que vou melhorar isso. - me olhou e assenti selando os seus lábios - Eu te amo.

- Eu também te amo, muito. - falei a abraçando mais forte.





***




Uma semana depois... 




Quando um novo fim de semana de shows chegou, eu já estava mais conformado com o cancelamento de um deles. Arleyde me aconselhou a viajar com Alexa nesse dia, para que a imprensa não especulasse que eu tivesse ficado mal ou revoltado. Depois do show de sexta, fui com Alexa para Maceió. Lá tinha praias lindíssimas e seria bom a gente relaxar um pouco. Além disso, no domingo eu tinha show lá.

Alexa estava mais calma, não voltou a falar nem da Sandra, nem da Teresa. Mas pelo sim, pelo não, decidi me livrar de qualquer vestígio de outra mulher do meu celular.




- Pronto, apaguei os meus contatos, e deixei de seguir algumas mulheres. - avisei deitado na espreguiçadeira na praia privada do hotel, logo em seguida desliguei o aparelho, não queria nada nos incomodando.

- Algumas? - me encarou brava.

- Sim, algumas. - disse normal - Não vou dar unfollow na Veveta, nem na Sandy, nem na minha irmã, ou até na Lelê...

- Ah, pensei que você estava se referindo às outras. - falou derrotada e ri.

- Você é muito ciumenta, sabia? - apertei a sua coxa, Alexa estava com um biquini verde esmeralda e o sol batendo em sua pele deixava-a ainda mais linda.

- Sou nada. - disse indignada.

- É sim. Agora, é a sua vez, apaga o número dos marmanjos também.

- Que marmanjos? Só se for você. - zoou e sorri cínico.

- O Rick, o teu ex. - falei irónico.

- Como você conhece ele? - perguntou confusa.

- Você levou-o lá a casa para ele arrumar o teu ar.

- Não lembro. - confessou.

- E vocês acabaram transando. - contei e ela arregalou os olhos - Pois é, Alexa. Você era bem provocadora, só porque eu estava fazendo barulho no meu quarto com uma peguete, você chamou o teu ex e me deu o troco.

- Meu Deus, que vergonha. - tapou a cara com as mãos - Eu fiz mesmo isso?

- Fez, você queria o meu corpinho, mas como não tinha, decidiu me provocar.

- Você está exagerando. - falou e ri assentindo.

- Apaga. - pedi.

- Posso precisar que ele arrume o ar pra mim de novo, ou até que apague o fogo.

- Que apagar o fogo o quê? - disse incrédulo - Eu matava os dois. - disse bravo e ela riu - Vai apagar?

- Não, ele é meu amigo, não é um contatinho. - rebateu.

- Também tenho amizade com algumas peguetes, vou recuperar o contato delas, então. - peguei no celular e ela tirou-me rapidamente da mão.

- Não inventa. O perigo é você, não sou eu.

- Qual a diferença? - perguntei confuso.

- Você tinha uma vida de galinha antes de mim, eu não tinha uma vida assim. Então...

- Ciumenta. - cantarolei e ela me bateu no braço me fazendo rir.




Começava a achar que o cancelamento do show não tinha sido tão mau assim, pelo menos, estava aproveitado esse tempo para namorar bastante.


Quando voltamos para o hotel no final da tarde, liguei o celular e ele não para de tocar. Eram mensagens e chamadas que não acabavam, do meu pai e de Rober. Será que aconteceu mais alguma coisa?





- Alô. - atendi ao meu pai que estava me ligando naquele momento.

- Luan, ainda bem que você atendeu.

- Eu tinha desligado para não incomodar. Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu e começo a desconfiar que você tinha razão. 

- O que foi desta vez?

- Tacaram fogo no escritório em São Paulo. A Juliana e a Jéssica estavam lá e conseguiram accionar os bombeiros rapidamente, mas uma parte ficou destruída. 

- Pai, me diz como isso é possível? - suspirei pesado.

- Não sei, filho. Mas a perícia está aqui e vão tentar perceber se foi fogo posto ou acidente. 

- Sabemos a resposta, pai. O escritório respeita todas as normas de segurança. - bufei chateado - Liga para os policiais e conta para eles, pai. Eles precisam estar a par dessas coisas,

- Claro, vou fazer isso. 




Me virei para tomar um banho e Alexa estava me encarando preocupada.




- Mais problemas? - perguntou e assenti.

- Pois é, parece que não acabam nunca. - suspirei pesado e ela me abraçou docemente.

- Vai tudo ficar bem, meu amor. Tem calma.

- Espero que sim. Nunca tive uma onda de tanto azar assim.

- Nem tudo é azar. - me olhou com um sorrisinho de canto.

- Tem razão, eu tenho você e vou fazer de tudo para que seja pra sempre. -  a beijei intensamente mostrando as minhas segundas intenções.





Alexa subiu para o meu colo apertando as suas pernas em minha cintura. Apertei a sua bunda e desci os beijos para o seu pescoço, ouvindo ela ofegando. Segui para o banheiro e a encostei na parede fria. Alexa ligou o chuveiro e desceu do meu colo para me despir. Fiz o mesmo que ela e a beijei novamente a prensando na parede onde a fiz minha, mais uma vez.



Como desconfiava, o incêndio no escritório foi provocado, mas não havia rastros que culpassem alguém, pelo menos por enquanto. O prejuízo foi enorme.

A imprensa caiu em cima de mim, pelo show cancelado e pelo incêndio. Mas a Arleyde sempre os proibia de fazerem essas perguntas, então eu não falava nada, mesmo quando eles ousavam perguntar.




***




Três semanas depois 



Alexa sempre ficava do meu lado, me ouvia, me aconselhava, me acalmava. Ela tinha melhorado, como prometeu. Estava mais parceira do que nunca. Eu me imaginava com ela para o resto da vida, cada vez mais.

Cheguei a casa da academia e ela via um filme.




- O que você está assistindo, ruivinha? - me sentei cansadão ao seu lado.

- Noivas em guerra.

- Hum. - a encarei de perfil e ela ria de alguma coisa do filme - Você gostaria de casar?

- Sim, acho que toda a mulher sonha com isso. - falou distraída.

- Comigo? - perguntei de repente e ela me olhou cerrado.

- Você está me pedindo em casamento?  - ri fraco.

- Ainda não. - a puxei para o meu peito - Mas espero não demorar. - beijei a sua cabeça.

- É cedo, ainda. - disse com um sorriso fraco.

- Não acho, eu tenho 25 anos e você tem 21.

- Como eu disse, muito cedo. - falou voltando a olhar a tv.

- Se eu fizesse o pedido, você ia recusar? - questionei e ela me olhou pensativa.

- Não, mas não iria me casar rapidamente também.

- Ok, a gente pode noivar por anos. - brinquei e ela revirou os olhos rindo.




Ela poderia não querer casar em breve, mas há dois tipos de casamento: pelo civil e pela igreja. Presumo que quando ela disse que era cedo, estava se referindo à cerimónia religiosa. Mas o casamento civil poderia ser mais cedo, não chamava a atenção de ninguém e ela poderia ser minha no papel.

Eu estava completamente apaixonado por ela. Era como se estivesse envolvido num encantamento que não se quebraria nunca. Eu me mergulhei de cabeça nessa relação, mesmo quando ainda negava qualquer sentimento. Mas já não queria mais negar nada, não queria esconder o que estava sentindo. Eu amava Alexa e esperava receber o seu "sim" em breve.

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